*O Final de Uma História.
Dissolvida a Expedição do General Setembrino em Abril, nos meses que se seguiram, até Dezembro de 1915, as remanescentes forças militares do Exército e da Polícia de Santa Catarina realizaram a chamada "Operação Varredura", destinada a caçar e eliminar todos os sobreviventes cablocos que haviam liderado piquetes ou se destacado nos combates. Ficaram famosos os fuzilamentos coletivos ocorridos em Perdizinhas e em Butiá Verde, com os cadáveres sendo queimados em meio a grimpas de pinheiros e sepultados entre cercas de taipas de pedras. Com a prisão de Adeodato Ramos, em Janeiro de 1916, sem mais liderança, pouco restou dos grupos rebeldes.
Ao final do conflito, levantaram-se oficialmente as baixas nos efetivos legalistas militares e civis: de 800 a 1 000, entre mortos, feridos e desertores. Por outro lado, estimaram-se as baixas na população civil revoltada: de 5 000 a 8 000, entre mortos, feridos e desaparecidos. O custo da Guerra do Contestado para a União foi de cerca de R$3 000 000, 00, mais os soldos militares.
Com a vitória, quem mais ganhou com o conflito foi o Exército Brasileiro que, vindo de desgastes anteriores desde a Guerra do Paraguai, Campanha de Canudos e participações desarticuladas, desorganizadas e desastrosas nas intervanções em diversos Estados da incipiente República, passou a se apresentar como uma organização nacionalista, sólida e responsável, digno de respeito, assim abrindo caminho para - conforme a pregação de Olavo Bilac - a instituição do Serviço Militar no Brasil.
Cessados os combates na região, em Agosto de 1916, no Rio de Janeiro, os governadores do Paraná e Santa Catarina assinaram um "Acordo de Limites", dividindo entre si o Território Contestado. Com isso, após a homologação do documento pelos legislativos estaduais, os catarinenses assumiram de fato a administração das terras ao Sul dos rios Negro e Iguaçu, nos vales dos rios Timbó, Timbozinho, Paciência e Canoinhas e a Oeste do Rio do Peixe.
Em 19 de Janeiro de 1918, a União anistiou todos os envolvidos. A Guerra do Contestado começaria a entrar para a História do Brasil do Século XX.
O Estado de Santa Catarina encontrou muitas dificuldades para desencadear seu plano de povoamento nas terras que lhe foram anexadas por força do acordo, à vista da sobreposição de títulos sobre as glebas demarcadas e destinadas à colonização. Como grande parte dos imóveis haviam sido legitimados pelo Paraná, antes de 1916, tanto à Companhia EFSPRG como a fazendeiros e a especuladores paranaenses, as questões foram levadas aos tribunais. O Governo Catarinense perdeu todas as ações judiciais movidas contra a Cia. Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande do Sul.
O Governo estadual escolheu como sistema de colonização do Território Contestado a cessão de imensas glebas a particulares, preferencialmente àqueles que compartilhavam o poder político e se propunham à abertura de estradas, titulando-lhes, em parte, as mesmas terras que o Paraná havia concedido à EFSPRG. As ligações rodoviárias foram eleitas como de fundamental importância para a integração catarinense.
A década de 1920 marcaria o início da introdução da modernidade, da efetiva ocupação e do desenvolvimento do Planalto Catarinense, integrando o sertão à faixa litorânea. Entre outros resultados, sobressaíram-se a indústria madeireira e o modelo agrícola minifundiário e policultor, que gerou a agro-indústria.
Efetivamente, o desenvolvimento econômico na Região do Contestado começou quando da chegada das primeiras levas de imigrantes europeus (alemães, italianos, poloneses e ucranianos), que vieram tanto para explorar a floresta, em latifúndios, implantando a indústria da madeira, como trabalhar na agricultura, em minifúndios. As propriedades destinadas à colonização foram divididas em colônias e, em pouco tempo, os núcleos coloniais transformaram-se em povoados.
No Setor Ocidental da Região do Contestado, ao longo do Vale do Rio do Peixe, estes núcleos, mais os antigos arraiais, prosperaram, com o que surgiram novas vilas, algumas delas que se elevaram à categoria de cidades, como Caçador, Videira, Tangará, Capinzal, Piratuba, num primeiro momento, e Rio das Antas, Pinheiro Preto, Ibicarpe, Treze Tilias, Lacerdópolis, Ouro e Ipira, logo em seguida. Destes, mais tarde, nasceram Macieira, Salto Veloso, Arroio Trinta, Luzerna, Iomerê e Jaborá. No Alto Uruguai despontou Concórdia, do qual também originaram-se os municipios de Presidente Castelo Branco, Lindóia do Sul, Ipumirim, Arabutã e Alto Bela Vista.
Em áreas pouco contempladas com projetos de colonização, nos antigos Campos de Palmas-de-Baixo prosperaram as cidades de Água Doce, Catanduvas, Irani e Ponte Serrada. Já Matos Costa surgiu nos antigos Campos de São João, e Calmon nos Campos de São Roque. Fraiburgo originar-se-ia na área do Campo da Dúvida, Taquaruçu e Butiá Verde, enquanto que Lebon Régis, Santa Cecília e Timbó Grande foram as primeiras cidades na Serra do Espigão.
O Municipio de Campos Novos logo cedeu terrenos também para a formação dos munícipios de Herval d'Oeste Velho e Monte Carlo. Em seguida, para Brunópolis, Vargem, Abdon Batista, Zortea e Ibiam. Curitibanos manteve a integridade territorial por muitos anos, até que cedeu terras para Correia Pinto e Ponte Alta, depois para São Cristovão do Sul, Ponte Alta do Norte e Frei Rogério.
Completando o desenvolvimento municipal na Região do Contestado, temos que, no Planalto Norte, desmembrados de Porto União, Canoinhas e Mafra, surgiram os municípios de Três Barras, Irineópolis, Papanduva, Major Vieira, Monte Castelo e Bela Vista do Toldo.
Para a posteridade, o Homem do Contestado legou a Santa Catarina uma herança cultural que incluiu: uma lição de valentia e de bravura, não se submetendo à tirania e à opressão, preferindo lutar e morrer tentando ser livre; a consolidação do exemplar regime de minifúndios policultores, povoando a todos a possibilidade de, mesmo pequeno, ser grande; o nobre sentimento de defesa de seu patrimônio ambiental, desde quando o equilibrio ecológico passou a ser ameaçado pela devastação; finalmente, uma contribuição ímpar na descoberta de caminhos para levar os catarinenses a conquistar a sua cidadania através da ação comunitária.
- Com a ausência de policiamento oficial em Três Barras, a empresa Southen Brazil Lumber & Colonization Company mantinha um quadro próprio de vigilantes. Este Corpo de Segurança, armado de revólveres "Smith & Wesson" e carabinas "Winchester", lembrava a extensão o antigo "Far-West" dos E.U.A no Brasil.
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