A Guerra do Contestado - Parte VI

quinta-feira, 7 de maio de 2009

*Banditismo no Contestado.

Durante o rigoroso inverno de 1914, quando na região as temperaturas alcançam -10° e há ocorrências de geadas e nevascas, os cablocos se organizavam, iniciando uma fase de banditismo ao atacar as fazendas para roubar gado e grãos e para arregimentar pessoal para reforçar os redutos. Na medida em que se armavam e municiavam, intensificaram os ataques.

Fortemente guarnecida, a cidade catarinense de Canoinhas foi alvo de diversas investidas de grupos comandados por Antônio Tavares Júnior e Bonifácio Papudo, sem êxito, a maior delas em Julho. Na área do Paraná, piquetes de Henrique Wolland, o "Alemãozinho", ocuparam Papanduva de 27 de Agosto à 3 de Setembro. No dia seguinte, o ataque foi dirigido a Itaiópolis.

Quando a serraria da Lumber Company de Três Barras foi ameaçada, seus diretores pediram proteção e, como esta localidade era vizinha a Canoinhas, mas sob administração paranaense, não foi mais possível ao Paraná deixar de se envolver diretamente no conflito.

Atendendo aos apelos dos governantes dos dois Estados, o Ministério da Guerra chamou o General Setembrino de Carvalho, que estava atuando na pacificação dos rebeldes do Padre Cícero, como interventor no Ceará. Quando ele começou a organizar sua expedição, ainda no Rio de Janeiro, os cablocos se lançaram à ofensiva, sob o comando de Francisco Alonso e Venuto Baiano.

No dia 5 de Setembro a serraria e os depósitos de madeira da Lumber Company, de Calmon, foram incendiados, do ataque resultando em apenas um sobrevivente. No dia seguinte, aconteceu o ataque ao povoado de São João. A composição ferroviária, saída de Porto União da Vitória com um destacamento militar sob o comando do Capitão Matos Costa para socorrer Calmon, foi atacada e praticamente dizimada quando chegava a São João, registrando-se a baixa do comandante. Os ataques alcançaram todas as estações ferroviárias, fazendas e lugarejos ao Norte do Rio Caçador.

Assustada, a maioria da população de Porto União da Vitória fugiu para Ponta Grossa. A investida contra o Capitão Matos Costa foi condenada pelo Conselho de Comandantes que, em represália, determinou a execução do mentor do assalto, Venuto Baiano.

Piquetes sob o comando de Agostín Saraiva investiram contra Curitibanos, onde incendiaram parte das casas, expulsaram as autoridades e ocuparam a cidade por três dias. Dali, dirigiram-se para os campos de Lages, levando o pânico à população campeira, até que "Castelhano" foi morto por populares. Outros piquetes saíam do Timbó em direção aos campos do Corisco, investindo contra fazendeiros de Santa Cecília.

No dia 2 de Novembro, o piquete de Chico Alonso atacou a colônia alemã de Rio das Antas. Ali, Alonso foi assassinado por Adeodato Ramos, que o mais temido chefe de redutos, superando o poder de Maria Rosa, que foi destituída do comando geral.

*Expedição Setembrino.

Em Curitiba, o General Setembrino de Carvalho organizou seu Quartel General, mobilizando boa parte do Exército Brasileiro. Chamou seis regimentos de Infantaria, dez batalhões de caçadores, três batalhões de infantaria, quatro regimentos de cavalaria, duas companhias de metralhadoras, um grupo de artilharia de montanha, um batalhão de engenharia, pelotões de trem, seções de ambulância e hospitais de sangue.

Diante da ascensão dos ataques dos sertanejos, dispersos na vasta região, dividiu as forças em quatro colunas, a Norte em Canoinhas, a Leste em Rio Negro, a Oeste em Porto União da Vitória e Rio Caçador e a Sul em Curitibanos, para fazer um grande cerco e, aos poucos, com o estreitamento das linhas armadas, apertar e confinar os rebeldes a um só lugar.

Depois de requisitar e receber tropas de todas as Armas, inclusive a aviação civil do Rio de Janeiro, ele se transferiu de Curitiba para a região em conflito no mês de Dezembro.

Na zona conturnada, em que o tráfego dos trens foi prejudicada, os combates entre os cablocos e os militares eram diários. Aos poucos, o cerco foi sendo apertado, com os sitiados começando a sentir a faltade alimentos, armas, munições, roupas e remédios. Sem mais condições para lutar, centenas de famílias renderam-se aos comandos das colunas. Na mata, a ainda resistência ativa sobrevivia escapando de um reduto para outro. A fome fez com que cavalos, cachorros, cintas, cangalhas, arreios, bruacas e chapéus de couro cru se constituíssem em alimento. Uma nova epidemia de tifo espalhou-se na região no início de 1915, alcançando inclusive militares, como foi o caso do então Aspirante a Oficial, Henrique Teixeira Lott.

O Exército só começou a ter êxito nas suas operações de guerra após a contratação de centenas de civis, habitantes da região que não haviam se envolvido com os rebeldes, conhecedores do terreno, que foram colocados a soldo junto aos destacamentos para guiar e orientar os soldados. Entre estes, chamados de "peludos", descataram-se Fabrício Vieira, Carneirinho, Pedro Ruivo, João Alves de Oliveira, João Göetten Sobrinho, Maximino Morais e Nicolau Fernandes.

Não foi possível o emprego a contento dos aeroplanos em bombardeios. Depois de realizar vôos de observação, o avião pilotado pelo Tenente Ricardo Kirk caiu no dia 1° de Março, quando se dirigia de Porto União da Vitória ao campo de aviação de Rio Caçador, onde seria municiado com bombas para lançar sobre o reduto de Santa Maria. O trágico acontecimento foi registrado no pioneirismo da aviação militar brasileira.

Em Fevereiro, sob o comando geral de Deodato, os cablocos se concentraram no Vale de Santa Maria, no centro da área do Timbó, no coração da Serra do Espigão, um local quase inexpugnável. Ali, resistiram aos bombardeios dos canhões da Coluna Sul, até sucumbirem à valentia de um destacamento da Coluna Norte, comandada pelo Capitão Tertuliano Potyguara, que, depois de um bem sucedido "raid" pelo Timbozinho em Março, avançou pelos rios Timbó e Caçador Grande, dizimando as guardas e redutos, entrando no vale pelo Arrio Santa Maria na Semana da Páscoa.

A carnificina desta expedição, encerrada dia 5 de Abril, onde morreram Maria Rosa e muitos comandantes cablocos, resultou em mais de 1 000 mortos e 6 000 mil casas e casebres incendiados. Os sobreviventes do etnocídio 0 ou genocídeo - conseguiram fugir para outro reduto, o de São Pedro.

- Considerado o último jagunço, o principal líder do Exército Encantado, Adeodato Manoel Ramos, escoltado por soldados do Regimento de Segurança de Santa Catarina, quando sua entrada na prisão de Florianópolis, em 12 de Agosto de 1916, fato que marcou o final da Guerra do Contestado.

- Milhares de Sertanejos, cercados pelo Exército, vencidos pela fome e pelo tifo, entregaram-se para escapar da morte.

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